A Revoltada (parte I)

(Minutos antes de começar o espetáculo, antes do terceiro sinal, ouve-se murmúrios na cochia)

Atriz 1 – Ai, eu não me conformo, isso não vai ficar assim!

Atriz 2 – Psssss!!! O espetáculo já vai começar, fica quieta, quer estragar a estréia, queimar o filme?

Atriz 3 – Se isso aqui fosse cinema eu adoraria queimar o filme inteiro, mas como é uma pecinha de quinta categoria, eu quero estragar sim. É uma ótima idéia.

Atriz 2 – Sossega menina, não vale a pena esse nervosismo todo, só traz doença! Raciocine um pouco, o que você vai lucrar com isso?

Atriz 1 – Doente eu já tô, meu bem. Faz tempo! Não consigo raciocinar de tanto ódio! Esse diretor me paga. Eu tava indo tão bem nos ensaios, não tava? Não, fala a verdade, por que é que ele foi cortar meu número, justo na véspera? Ai que ódio!!! (chora) Agora quem vai cortar o barato dele sou eu. Eu vou me vingar, pode esperar!!!!!

Atriz 2 – Fala baixo, o que você vai fazer? Olha lá, hein? Você tava um pouco desafinada sim, como sua amiga eu tenho que dizer.

Atriz 1 – Desafinada? Eu tô há meses fazendo aula de canto pra nada? Pôxa, eu dei tudo de mim! Ahhh, eu vou acabar com essa estréia, cansei de ser boazinha.

Atriz 2 – Calma, minha amiga. Respira vai, respira! Pense no que você pode aprender com isso.

Atriz 1 – Não quero pensar em nada, chega! Já pensei muito, passei a noite em claro!

Diretor – Mas o que tá acontecendo aqui? Silêncio gente, a peça já vai começar! Já vou dar o terceiro sinal

Atriz 2 – Claro, claro, desculpa! (Risada nervosa) A gente tá um pouco nervosa com a estréia…

Atriz 1 – Ai metido! Eu vou acabar com a raça desse diretor.

(Toca o sinal, o espetáculo começa. A atriz revoltada participa de outras cenas deixando transparecer seu mau-humor)

Cena da comédia "CABARÉ DO RISO", encenada pelo grupo teatral Usina de Anjos no Teatro Santa Cecília (Itajubá - MG) no ano de 2006

(continua...)