Havia dois irmãos que perderam os pais muito cedo: Francisco e Tobias. Herdaram a fazenda em que moravam e dividiram as terras do pai ao meio. Francisco soube se virar muito bem, porque sempre ajudava nas tarefas da fazenda. Aprendeu a cultivar o trigo, o milho, aprendeu a respeitar os ciclos das estações, a cuidar dos animais. Quando ficou sozinho, não hesitou em pedir ajuda e tirar suas dúvidas com vizinhos e colegas na feira da vila, onde vendia os produtos da fazenda.
Já o irmão, Tobias, nunca quis saber de ajudar. Gastava seu tempo a passear pelas redondezas, a fazer travessuras, sabotar as plantações, maltratar os animais. Os vizinhos já haviam descoberto suas molecagens e o haviam proibido de pisar em suas terras. Quando ficou sem os pais não quis saber de pedir ajuda a Francisco, nem a ninguém mais. Seu orgulho falou mais alto, decidiu que ia aprender a fazer tudo sozinho e a viver sem depender de ninguém.
Comprou sementes e grãos sem saber quais os melhores para aquela determinada estação e saiu plantando onde lhe parecia ser o melhor lugar. Gastou muita água sem precisar, desperdiçou energia tentando descobrir qual a melhor maneira de cuidar da plantação. Nem ao menos se aventurou a consultar livros, pois tinha preguiça de ler. Até conseguiu colher alguma coisa naquele ano, o suficiente para não morrer de fome no inverno. Quando chegou a primavera, suas previsões se esgotaram, todo o dinheiro que o pai deixou tinha acabado. Decidiu invadir secretamente o celeiro do irmão pra roubar algumas sementes. Lá foi ele mais uma vez tentar às cegas plantar milho, trigo, arroz, feijão. Passou a invadir as terras do irmão e a roubar cada vez mais pra poder comer. Quando Francisco percebeu que havia um ladrão rondando suas terras, colocou cães de guarda para tomar conta do celeiro e da horta.
Quando o gatuno Tobias se aventurou mais uma noite a roubar o celeiro de Francisco, deu de cara com dois cães enormes. Por pouco não perde a vida ao fugir e despencar de um barranco. Mesmo em frangalhos e morrendo de fome, não pediu ajuda ao irmão. Pelo contrário, ficou tomado por uma mistura de raiva e inveja. Jurou vingança.
A esta altura tinha conseguido colher uma pequena fração das sementes roubadas que havia plantado, o suficiente para não morrer de fome mais uma vez. Na próxima primavera, envenenou a comida dos cães com vidro triturado. Os pobres não resistiram e Tobias pôde mais uma vez assaltar o celeiro do irmão. Por pouco tempo, pois logo Franscisco conseguiu outros cães de guarda, maiores do que os primeiros. Só que daquela vez a plantação de Tobias foi um desastre. Ele não usou água o suficiente e as pragas comeram os poucos brotos que resistiram.
Foi preciso que Tobias chegasse ao extremo da fome para superar o orgulho. Já estava doente, mal conseguiu caminhar até a porta de Francisco. Ao ver seu irmão naquele estado deplorável, Francisco nada questionou. Arranjou-lhe um banho, roupas limpas e um bom prato de comida.
Tobias passou alguns dias sendo cuidado pelo irmão até se recuperar. Seu coração se enterneceu ao perceber o carinho do irmão. Os anos da infância, há muito esquecidos, brotaram de novo em sua memória. Para se redimir da culpa por sua arrogância, passou a ajudar o irmão. Foi quando percebeu que a solução para todos os seus problemas estava ali ao seu lado o tempo todo, mas ele estava cego. Era bem mais fácil do que imaginara plantar, colher… e pedir ajuda!
(Escrevi este conto há muitos anos atrás. Tem um tom ingênuo, quase um conto infantil. Estava em dúvida se colocava aqui ou não... na dúvida, postei.)
9 comentários:
...belíssima lição!
obrigada por dividí-la conosco.
é da natureza humana o orgulho
a soberba, quando na verdade
não somos nada sozinhos.
quem sabe um dia aprendemos,
né lindo?
bj grande procê.
muahhhhhhhhhhhhhhhhh
Eis o perdão destinando seus milagres na Fé, na força da irmandade, pois que antes de sermos irmãos na carne, somos irmãos nos laços eternos de Jesus.
Logo nos chega o direcionamento da bendita Luz que nos acalma e nos afaga a alma. Eis aí a verdadeira ação, aquela que nos promove o pensar e deixar em nossas atitudes
a direção. Enquanto do outro lado a reação manisfesta-se contra a ação. Sentiu a diferença? Ação pensa, é força, é equilíbrio, reação, o reagir impulsivo que arrebenta nossos passos sobrepujando a razão..
Maravilhoso conto, maravilhosa lição de amor e perseverança, do perdão...
Parabéns e adoro passar por aqui.
tá sendo gostoso demais pra mim...
Bjss
Que bom que gostaram! Livinha, percebi a diferença. A Cabala nos diz que devemos ser pró-ativos e não reativos... Tb adoro suas visitas. bjo a você e a Vivian, outra querida.
Ainda bem que vc postou!
Eu e a Larissa(agora tenho que ler suas histórias com ela) gostamos muito.
Bjs.
Cada um canta a sua canção...mas em uma só melodia.
Abraços
Bya
Não acho infantil. Acho didáctico.
Adorei o conto, Marcelo.
Obrigada pela tual gentil presença e comentários lá na Casa Claridade!
É uma benção tê-lo como amigo e, você me deixa mais feliz ainda, quando faz algum comentário em meu blog
Beijos!
Pois é Hazel, é um bom conto pra crianças, não? Tb adoro sua presença aqui. bjos
Postar um comentário