Era uma mulher ou uma musa, aquela que fugia pelas ruas do centro? Corria com alarmada malícia, seu passos faiscavam relâmpagos, a mistura de fogo e beleza sobressaltada incendiava os paralelepípedos. Fiquei me perguntando qual seria a fabulosa e maldita história daquela mulher. Passou por mim como quem arrasta para a noite um símbolo pesado e ardente, deixando no ar um perfume de pureza quase louca.
Tinha nos olhos o brilho mortal: estava perdidamente apaixonada. Ela fugia desse amor insano que fatalmente poria um fim à sua vida. Aquela mulher era a encarnação de todas as paixões cegas, uma deusa que fugia de um destino inexorável, a própria tragédia grega correndo correndo na ilusão do alívio de um fardo intolerável. Corria sangrando de ódio e desejo, deixando um rastro pela imensa noite afora.
Uma aparição. Uma flecha ferida. Uma história de incêndio na alma. De amor obsessivo e imensa solidão, atravessando a neblina, a noite, o mundo, fazendo estremecer a terra. Um corpo minado pela morte, que logo desapareceu na esquina de muros antigos junto com um grito delirante, um eco que vinha da escuridão de uma garganta lascada. Frações de segundo foram o bastante para marcar eternamente a lembrança de quem a viu passar. Deito-me e levanto-me com ela, desde aquela noite. Batizei-a com o nome de Valquíria. Musas doentias são perfeitas para a inspiração de um poeta.
2 comentários:
amei, amei, amei!!!
vc vai para os favoritos e nem adianta reclamar!!! rs
Valeu por seguir meu blog...
beijões
Querido Marcelo,
Realmente a sintonia instalou-se e produziu em nós aspectos muito parecidos de, talvez, uma mesma mulher... Será que eu não estava do outro lado da rua quando esta sua Valquíria passou a correr e, errôneamente, a chamei de Clarisse? As duas corriam... As duas choravam... Parecem a mesma mulher... Quantas mais não devem existir por ai, não é mesmo? Cuide bem da minha Clarisse... Cuido bem da sua Valquíria!
Nem precisa dizer que adorei seu texto e a intensidade com que o expos... Não só este,mas todos... Simplesmente maravilhoso!
Obrigado pelos comentários lá no Sofia... Volte quando puder! Passo aqui mais vezes, prometo!
Com apreço imenso,
Whesley
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