Quando dei por mim, todas as luzes já tinham sido apagadas, já não restava alma viva no pedaço. Pontas de cigarro, latas de alumínio e copos de plástico espalhados pelo chão. A última nota da última música ainda reverberava no labirinto do meu ouvido.
Pensei cá com os meus zíperes: Por que em tudo sou sempre o último?
O último a chegar, o último a ir embora. O último a dormir, o último acordar. A ouvir a última fofoca. A escutar o último CD de determinado último cantor de sucesso. A assistir aquele filme que já quase saiu de cartaz, aquela peça que há anos lota aquele teatro que até já foi reformado.
Este é o último desabafo daquele que é o último a ouvir e a entender aquela velha piada, a usar aquele modelo que já foi a última moda.
É um exercício eterno de paciência, já que em filas (nem precisava dizer) sou sempre o último. O último a ser atendido em todos os postos de atendimento.
Será que quando o mundo acabar, meu corpo vai arder em chamas uma semana a mais do que todos os outros? Sou virgem ainda, não quero ser o último a perder a virgindade!
Carrego em mim essa sina e não me acostumo com ela. Os últimos serão sempre os últimos. Quem ri por último, ri depois. Ser o último é a pior desgraça que pode se abater sobre alguém nessa fulgaz existência.
Ó Nossa Senhora dos últimos desesperados, deusas que por último foram concebidas, anjos que ficaram pra trás na hierarquia, mestres que por último foram ascencionados, rogai por nós, os últimos desse mundo! Gemendo e chorando nesse vale de lágrimas vos suplicamos, intercedei por nós junto a Deus, pois que vantagem existe no desterro de ser sempre o último do universo?
Mas ainda resta uma esperança. Aliás, vivo cheio de esperança, porque ela também é a última que morre.
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